— Você pegou tudo? — Sean fez a típica pergunta enquanto mantinha Belle no colo para ela não sumir bem na hora de sair.
— Sim. Bolsa da Bel, minha bolsa, nossas camisas oficiais! Você vestido de Ravens — ela riu. — A Bel também!
Os três usavam jerseys do Baltimore Ravens, o time de futebol americano para o qual Beatrice torcia. Sean era torcedor do NY Giants, mas jogaram na moeda para ver qual jogo iriam primeiro e deu Ravens. Bel ainda não opinava em nada, mas tinham combinado que em cada jogo todos iriam com a camisa do time que a família torceria no dia. Como Ravens e Giants raramente se encontravam em campo, tinham chances de não ter que se dividir. Por enquanto.
Bel estava devidamente uniformizada, toda de azul, com a minúscula camisa do time com o número 5 atrás.
— Hoje eu sou Ravens desde criança, mas no próximo jogo você vai de camisa 10 do Giants — apontou ele.
— Prometi, não foi? — Ela passou por ele e deu uma puxada na manga da sua camisa. Naquele dia era ele que estava com a camisa do quarterback do time dela.
— Mas você é enrolona — Sean saiu atrás dela e deixou a porta do quarto bater.
— Que isso? — Ela se virou à frente do elevador, já com aquela expressão de quem tentava não rir. — Olha a calúnia, a Bel vai acreditar.
— Ela é outra enrolonazinha.
Beatrice não aguentou e riu.
— Você é um descarado, não pode acusar ninguém.
— Devo e não nego — respondeu ele.
A descida foi bem rápida, pois o Sagamore Pendry Baltimore era grande, mas tinha apenas três andares. Eles reservaram um dos quartos com vista completa para o mar. Até porque para eles, aquele local sempre seria especial. O Sagamore ficava próximo ao píer onde Beatrice levou Sean na primeira vez dele na cidade.
Dessa vez Raymond e Don que haviam viajado com eles, ou seja, Sean estava por sua conta. Porque Raymond era o segurança de Isabelle e Don ia onde Beatrice fosse. Eles gostavam de brincar sobre isso, mas acreditavam que era suficiente. Mesmo que na verdade, não fossem mais quatro pessoas na família, afinal, Brianna tinha ficado em casa, mas ela contava. Agora eram cinco, pois Beatrice carregava o pequeno segredo deles que estava quase completando quatro meses. Não dava para notar nada ainda, a barriga dela nem saíra do lugar e estava usando a camisa do Ravens que ficava larga.
— Eu não acredito que vocês toparam isso — Sean ficou parado ao lado do carro.
— Don! — Bel saudou o segurança, mesmo que tivesse o visto há poucas horas.
Raymond deu a volta no carro e se aproximou, abrindo um sorriso quando Bel esticou o braço para tocar na camisa dele.
— Ficou uma beleza, garotos. Sabia que tinha acertado no tamanho — elogiou Beatrice, fazendo sinal de positivo.
Don e Ray estavam usando camisas do Ravens. Ela comprou as camisas para eles e ainda escolheu seus atacantes preferidos.
— Estamos à paisana — Don nem disfarçava o sorrisinho. Ele sabia das provocações sobre os times. E o pior que ele era NY Jets, ou seja, não torcia para o time de nenhum dos dois.
O M&T Bank, estádio do Ravens, ficava a uns 15 minutos dali. Belle gostava de ir na cadeirinha entre os pais, assim interagia com ambos. Era a primeira vez dela não só em um jogo de futebol americano, mas também em qualquer lugar tão cheio de gente. Ela nunca havia visto tanta gente ao mesmo tempo e nem assistira qualquer esporte ao vivo.
E é claro que seus pais, fiéis torcedores da NFL, iriam levá-la a um jogo. O próximo plano era levá-la para começar na vida de esquiadora da neve. Pelo menos a puxariam em trenós. Era o esporte que Sean mais gostava de praticar, mais do que artes marciais. Pois estas representavam um propósito de vida e o esqui e snowboard eram seu lazer, ele era apaixonado por descer aqueles picos repletos de neve. Foi algo que o ajudou no período recente de sua vida em que não esteve bem.
Se não fosse Sean Ward, com uma missão no GW, talvez houvesse seguido competindo por uns anos, talvez até a faculdade. Antes de tudo aquilo acontecer, entre os 10 e 15 anos ele tinha participado de algumas competições juvenis e tinha se saído bem. E agora, ele também conseguia se conectar melhor com as memórias dessa época da vida. Aconteceu muita coisa boa lá atrás que valia a pena recordar.
— Vai Ravens! — Beatrice disse animada, pois desde o hotel que estava respondendo outros torcedores que saudavam ao vê-los com as camisas.
Era dia de jogo em Baltimore, comportamento normal. A cidade realmente entrava no clima quando o time local estava jogando em casa. Prédios ficavam iluminados com as cores, parecia que todo mundo tinha uma camisa do time. E os cumprimentos e gritos só aumentavam em volta do estádio.
— Vaai! Ravii! — Belle tinha visto a mãe dizer isso vezes suficientes para querer repetir e gritar também.
Para ver seu time querido, Beatrice pegou cadeiras na melhor fileira, do melhor local do estádio. Se ela podia, ela fazia. E Bel merecia tudo de bom em sua primeira vez. Eles colocaram os protetores nos ouvidos dela, pois era muito barulho e só ia piorar quando o jogo começasse.
— Naum — Bel empurrou o fone azul que era para combinar com sua minúscula camisa do time.
— Vai usar sim, já combinamos — Sean ajeitou no lugar. — Eu sei que você me escuta.
— Lanchi — disse ela, como se isso fosse seu preço para colaborar.
— Mas já? — Sean riu da expressão dela.
— Comida de estádio! Nossa! Quanto tempo! Já sinto o cheiro! — animou-se Beatrice.
Ela se adiantou, para não ficar presa em filas. E Bel ficou olhando com o cenho franzido, tentando entender o que sua mãe tanto fazia naquele dia. Beatrice não estava em seu comportamento usual, ficava gritando para outras pessoas, balançava os braços e repetia o “vai Ravens”. Chegou ali e andou na frente, adorando estar de volta ao estádio. Bel não entendia, mas não sabia se queria ficar para trás. Então fez um bico e olhou para o pai.
— E eu? Mamãe!
Sean queria muito rir. Mas abaixou a frente dela que tinha acabado de conseguir sua chance de andar pelos corredores internos do estádio. Ele pensou em dizer: Mamãe está doida hoje, foi tomada pelo espírito de torcedora. Nós a perdemos para o Ravens!
— Você é uma torcedora pequena, não pode ir pelo meio das pessoas ainda. Vamos torcer! — Ele a pegou no colo de novo, pois ali de baixo ela não ia ver nada.
Sean levou Belle para o lado de fora e ela até esqueceu do protetor e do lanche. Ficou maravilhada com todas aquelas luzes dos refletores, os painéis iluminados, os telões, o campo verde logo abaixo. E quanta gente junta no mesmo lugar.
— Genti! Genti! — Exclamou ela, embasbacada. E fazendo o sinal de muito com as mãos, algo que ela nunca parou desde que aprendeu.
Raymond estava junto com eles e se divertia, vendo o assombro do bebê. O jogo começava às 19h30, então ainda faltava um pouco, mas o estádio estava quase lotado. Felizmente estava um dia ameno.
— Que noite maravilhosa para um jogo! Céu limpo! — Beatrice apareceu, com combos de lanches.
E Don vinha logo atrás, trazendo mais combos. Ela tinha comprado lanches para todos eles se distraírem enquanto o jogo não começava. Bea tinha dito que queria a experiencia completa de um dia de jogo no estádio, por isso não quis nada do serviço VIP dos camarotes ligados a seção onde estavam sentados. O pai dela sempre a levou para assistir os jogos, das três irmãs ela era quem mais gostava de esportes e virou sua companhia nos finais de semana de jogos em casa. Rose até gostava de ir às vezes, já Cherry, odiava.
— Mamãe! Zul! — Disse Bel, ainda chocada com tudo que via.
— Sim, é tudo azul. Cor do Ravens, seu futuro time do coração! — Ela mostrou a língua para Sean após dizer isso. Tinha saído na frente na disputa, pelo menos naquela noite, Bel era mesmo Ravens desde neném.
Quando se sentaram, Bel quis ir para a mãe por um tempo e Sean ficou segurando os lanches e franzindo o cenho cada vez que comia algo e pensava se a “comida de estádio” dali era aceitável.
— Nem pensar — Beatrice estragou as ideias de Bel de comer o lanche deles. — Isso é comida de adulto. Mas olha o que eu tenho para você!
Um dia Beatrice provavelmente pagaria por toda a enganação que fazia com Bel, mas era para o bem dela. Ela trouxe de casa um pote do Ravens com os biscoitos que a filha comia. Para o bebê era tudo azul, tudo igual. Até os mini-sanduíches dela estavam em uma embalagem de mentira como se houvessem comprado, mas foram feitos pela mãe só com ingredientes já testados por Bel.
— Isso é crime hediondo — brincou Sean, vendo que Bel foi completamente enganada e jurava que estava participando do lanche comprado ali.
— Crime hediondo é deixar uma salsicha perto dela nessa idade — só para ilustrar, Bea mordeu seu cachorro-quente. — O sistema dela ainda não tem essa resistência. E eu não vou trocar mais fraldas do que a minha cota.
— Então talvez ela nunca precise comer uma dessas — Sean também mordeu o seu cachorro-quente. E pela expressão, achou que estava aceitável, não estava muito seco.
— Impossível, uma hora ela descobrirá as danadinhas — brincou Bea.
— Até lá ela pode já estar pronta para isso e tudo seguirá o curso normal.
Eles riram, pelo papo estranho que estavam travando antes do jogo.
— Quando foi a sua primeira experiencia com salsichas? — Perguntou ela.
Sean até parou para pensar, mas nunca que lembraria disso.
— Não faço a menor ideia. Não foi um acontecimento para mim.
— Deve ter sido para os seus pais se você passou mal! — ela riu.
— Não lembro de passar mal, acho que isso tornaria o dia memorável. E quando foi a sua primeira experiencia com salsicha? — Ele levantou a sobrancelha.
Bea riu da dubiedade daquela história.
— Não sei, acho que só no colégio, em alguma festinha. Porque não entrava salsicha na minha casa. Meu pai achava desnecessário — ela se divertia. — Ele podia cozinhar lanches muito melhores do que salsichas.
— Xaxixa! — Exclamou Bel e olhou para o pai, parecendo até que lembrava.
Sean lembrava de Bel ter dito essa palavra pela primeira vez quando ficou na casa de Jared. Gwen não morava lá ainda e pelo jeito foi Hud que lhe ensinou isso no café da manhã. Mas eles disseram que não deram nada disso a ela e Bel não passou mal, então não comeu, né? Ele ficou quieto.
Beatrice ficou apontando as coisas dentro do estádio para a filha ver. Com tão pouca idade, para Bel era tudo visual e sensorial. Ela arregalou os olhos quando a torcida gritou porque os times estavam para entrar. Seria Baltimore Ravens contra Chicago Redskins. E a agitação no ar a deixou animada.
Belle voltou para o colo de Sean e Bea ficou vibrando e empurrando o time na entrada. A menina não sabia se prestava atenção nos homenzinhos correndo lá no campo, naquele bando de gente gritando ou na mãe que estava fazendo coisas que ela nunca a vira fazer. Como pular e gritar coisas, movendo as mãos e balançando uma bandeirinha.
Bem, prioridades. Bel quis foi a bandeirinha que a mãe agitava no ar. Não adiantava que Sean lhe desse a outra bandeirinha, ela queria aquela que a mãe agitava.
O Ravens começou na frente; no touchdown, Beatrice pulou tão alto que Bel se assustou. Sean levantou e a balançou, divertindo-a na comemoração. Depois o RedSkins virou e Bea ficou bem chateada, empurrando o time e reclamando a cada bola perdida. Bel fico olhando a mãe, acreditando que ela estava realmente chateada.
— Mamãe, num chateia — Bel dizia para a mãe.
No intervalo, quando o barulho do público diminuiu e ficou só a música enquanto os times estavam no vestiário, Bel ficou quieta, bebendo um pouco de suco. Don voltou com o chá gelado que Beatrice precisava, pois sentiu incomodo ao tentar beber refrigerante. Ele aproveitou e comprou mais comida para ele e Raymond que passaram o intervalo comendo pizza.
De repente eles apareceram no telão e Bea apontou, não era a primeira vez dela, rata de estádio já tinha aparecido no telão junto com o pai.
— Olha Bel, dá tchau!! — Exclamou ela e a filha começou a acenar sem saber o que estava acontecendo e eles rindo em volta.
Eles não duvidavam nada que mais tarde estaria em blogs de fofoca alguma foto que alguém tirou do telão na hora em que eles apareceram.
Os times voltaram, o primeiro a marcar foi o Redskins e Beatrice ficou danada da vida. Mas os Ravens correram atrás do touchdown e o jogo empatou outra vez, os torcedores dos dois lados estavam tensos. No campo os jogadores estavam agressivos. De repente o quarterback do Ravens fez um lançamento longo e Beatrice, assim como o resto do público ficou em silencio, olhos fixos, bocas abertas pelo segundo que a bola viajou e foi capturada pelo wide receiver, John Brown, que só precisou correr mais uns passos e marcar o touchdown.
— Éeeee!!!! — Beatrice pulou, gritando e movendo as mãos no ar, assim como os outros torcedores que vibravam. — É assim que se faz, caramba!!!
Ela gritava e apontava para o campo. Bel estava com os fones que a protegiam do barulho, mas ainda escutava algo e se sobressaltou outra vez com a explosão da mãe. E depois começou a gritar também, imitando a animação de Beatrice enquanto Sean ria dela e a colocava no chão para ela poder pular.
— Bloqueia! Bloqueia!! Não vai empatar nada!! — gritava Bea, enquanto o Ravens estava na defesa.
O Redskins conseguiu só um fieldgoal, encostando no placar. E Beatrice estava como os outros torcedores, gritando impropérios, dizendo que o Ravens tinha que marcar o touchdown agora senão ia levar uma virada. Entraram nos últimos 10 minutos de jogo, o placar ainda apertado. Depois de tanta animação e pelo horário avançado, Belle desacelerou e não queria mais ficar no chão nem para imitar a mãe.
Foi touchdown para o adversário e Beatrice sentou bruscamente, bufando com o que acontecia no jogo. Belle ficou emburrada e esticou os braços, pedindo atenção da mãe. Enquanto Beatrice a balançava levemente no colo, ela se aconchegou, satisfeita. Então o Ravens lançou um ataque, com os bloqueadores arrasando e o Alex Collins recebeu a bola e correu por 30 jardas, com a torcida gritando a cada passo dele e marcou o touchdown que definiu o jogo.
— Anda Sean, comemora por mim! — Bea o empurrou um pouco, pois até ele que torcia para outro time ficou de pé quando a jogada começou. Naquela noite o Ravens era o time dele e Sean gostava de assistir a um bom jogo, independentemente de quem estava jogando.
— Acabou! Não dá mais tempo de virar! — Ele gritava junto com a torcida. — Vai Ravens!!
Belle ficou com os olhos arregalados, mesmo com o protetor ela escutava tudo em um volume mais baixo. E agora era o seu pai que estava pulando. Mas o que estava acontecendo? Ela sentou, franzindo o cenho. Olhou em volta, todos também pulavam e gritavam e ela perdeu o sono. Voltou a se animar. Então Beatrice levantou e a balançou, comemorando a vitória.
— Aqui é Ravens! Hoje não, Chicago, hoje não! Vai para casa! — Provocava Bea, após a vitória do seu time.
Com tanta gente saindo ao mesmo tempo, eles ficaram ali sentados esperando esvaziar um pouco. Com o fim da maior agitação e só a música de fundo, Belle voltou a se aconchegar no colo da mãe e adormeceu antes de eles deixarem a arquibancada. Don sinalizou quando achou o caminho livre o suficiente e eles partiram.
Belle entrou no estádio gritando e imitando a mãe, mas saiu dormindo no ombro dela.
— Eu estou com fome! Vamos no porto velho e me comprar o melhor cachorro-quente do mundo. Lá ele é de verdade, não essa salsicha ressecada.
— Você não acabou de comer isso? — Perguntou Sean.
— Só dei duas mordidas, esse negócio de gravidez estragou meu estomago de torcedora. Agora estou frustrada e aqui vende o melhor de todos! Aliás, na primeira vez que você veio aqui eu queria ter te levado lá.
Ela passou Belle para ele carregar e ajeitou os fones protetores sobre seus ouvidos, pois ali fora ainda estava a algazarra da torcida do Ravens comemorando a vitória. E naquele horário, boa parte já tomara cerveja demais. Para azar deles, Belle acordou quando foi colocada na cadeirinha e ficou irritada. Para externar sua frustração começou a chorar e remexer as pernas.
— Ora essa, Bel. Você já sabe falar, isso é jeito de dizer que está danada da vida — dizia Beatrice, tentando acalmá-la. — A gente ganhou!
Bel não queria saber de nada disso, berrou ainda mais. Ela não era de ficar berrando, mas quando começava, era complicado. Eles pararam no píer e Beatrice a pegou no colo e ficou passeando com ela perto da beira, próximo de onde ela levara Sean quando ele apareceu em Baltimore para vê-la, vários anos antes. Logo Bel estava entretida com as luzes e os barcos e gostando do vento que vinha do mar.
— Mãe, um barco! — Bel ficou olhando, ela já passeara um bocado vendo os barcos lá em Manhattan.
— Eu gosto daqui — Sean estava com os braços apoiados sobre a cerca, observando a vista. — Me trás lembranças de uma das minhas épocas preferidas da vida. E é bonito para caramba, mesmo à noite.
— Olha Bel, foi olhando para essa vista que eu cometi a loucura de começar a me encontrar com o seu pai — Bea apontava e o bebê só olhava, entretido. — Naquela época era tudo muito incerto. Quando você ficar maior eu vou te dizer para não fazer isso, minha mãe também me disse. Mas não adianta. A gente conhece um cara e perde a cabeça. Se ele for bonitão, ainda piora o efeito. E aí você começa a sair com ele esporadicamente. Assim, sem mais nem menos.
— Você sai? E o papai? — Respondeu Bel enquanto Sean ria atrás delas.
— Quando você ficar bem maior e vir com papo de garotos e quiser saber do meu passado com o papai. Eu vou ser obrigada a ser sincera. Ele apareceu do nada depois de uns beijos e eu meio que dormi com ele depois do primeiro encontro oficial. Porque o anterior era para ser só um café. Eu vou te dizer para não cair no papo do café, mas chances altas de você cair. E tem o papo do jantar no hotel. Esse é batata que é para te ludibriar.
— Patata! — exclamou Bel, já interessada em comer algo antes de ir dormir, pois não jantara, só lanchara. — Quero!
— Por aqui só tem batata frita, você não come isso. Sossega.
— Quando você parar de me desmoralizar na história, eu topo ir encontrar o nosso jantar — disse Sean, divertido.
— Calma, estou tentando dizer que aqui eu percebi que estava gostando demais do cara esquisito que tinha um assessor e dois seguranças e que era chefe do Gerry e também morava lá em Nova York. E aí recuei, mas ele foi embora e não resisti em mandar um presente e sei lá…
Sean passou o braço em volta de seus ombros e beijou seu rosto.
— E sei lá, quem sabe combinar o próximo encontro — completou ele.
Bea deu um leve sorriso e ao ver o pai tão perto, Bel se inclinou para tocar o rosto dele e acabou se jogando mesmo para ser carregada por ele. Beatrice apoiou as mãos na cerca e ficou olhando para o mar.
— É a primeira vez que paramos aqui com as duas crianças — ela se inclinou um pouco, apoiando as mãos, como se assim fosse ver melhor.
O bebê ainda era um segredo que eles resolveram manter mesmo para a maioria dos familiares e estavam revelando aos poucos. Os pais dela sabiam, Agatha e Rose também, mas não disseram a mais ninguém. Assim como Jared, Gwen, Candace e Tess que guardavam a novidade. E quando estiveram em Londres, Sean contou a tia-avó, pois deixá-la saber muito depois não era uma boa ideia, ela ficaria magoada.
Bel tinha perdido completamente o sono depois do cochilo de dez minutos que deu enquanto deixavam o estádio e toda a sua irritação no carro. Beatrice sentiu que ela puxava o tecido do seu jeans e apoiava a outra mão na cerca, estava tão desperta que quis ir para o chão.
— Verdade — ele pausou, parando ao lado dela e olhando a vista também.
— E isso é muito estranho.
Ele riu.
— Eu não colocaria nessas palavras…
— Esquisitíssimo — completou ela, piorando.
— Também não era isso que estava tentando dizer.
— Imagina só, quando o trouxe aqui pela primeira vez, estava toda caidinha, mas não pensava em ter dois filhos! Eu ainda achava que casamento seria só depois dos 30. Fiz 30 e espero outro bebê — ela soltou da cerca e balançou a cabeça. — No que eu estava pensando? — brincou.
— Se você for fugir, por favor, avise para eu saber se te espero para o jantar ou coloco a Bel para dormir — disse Sean, divertindo-se quando ela foi se afastando.
— Eu não estou em crise, ok?
— E o Don vai com você.
— Isso não seria fugir em crise, Sean!
— Ele é discreto, você poderia surtar em paz.
Ela gargalhou.
— E você ia esperar?
— Você está esquecendo uma pequena complicação — ele apontou para a complicação que tinha saído correndo junto a cerca.
Bel corria em baixa velocidade, divertindo-se com as luzes e passando as mãos pelas vigas da cerca.
— Está vendo porque mães entram em crises existenciais! E eu tenho outro aqui — ela apontou para a barriga. — Vai pegá-la.
Ele ainda estava rindo e foi andando atrás de Bel que não tinha chances de ganhar das suas passadas largas. No fim ele só a virou e ela voltou correndo em direção a mãe.
— Pega ela, Belle! Antes que ela fuja! — incentivou Sean.
Beatrice foi se afastando e Belle acreditou que tinha de conseguir pegá-la, quando a mãe parou, ela se agarrou a perna dela.
— Vamos jantar, minha barriga está roncando porque por sua culpa tem outro exemplar desse aqui — ela indicou Bel que continuava segurando na perna dela, mesmo enquanto a mãe andava.
Já que estavam na parte velha do porto, eles caminharam até o Stravos, pois subitamente, Beatrice ficou com uma vontade imensa de sentir o tempero do pai. Mesmo se Niko não estivesse lá cozinhando, eram as receitas e ingredientes dele. E lá com certeza tinha menu infantil para alimentarem Belle. Também era difícil entrar lá e não encontrar um familiar, não só os que trabalhavam lá, mas os Stravos tinham um descontinho familiar, afinal, estavam sempre lá gastando e Beatrice teve de ver dois tios e suas respectivas esposas.
Gente! Achamos os Ward! Esses danados acham que conseguem se esconder da gente! Pois saibam que eles estão lá na terra dos Stravos, em Baltimore! A família da BeaW mora todinha lá. E se vocês não sabem, SeanW e BeaW adoram futebol americano. Aqueles doidos. E foram para lá ver o time dela, Ravens, jogar! Olha os vídeos da hora que esses lindos apareceram no telão! E levaram a Belle Ward! Meu Deus, estou morta de fofura! Ela estava até com o uniforme! Acho que foi o primeiro jogo da vida dela! Aii, que lindo! Levando a menina para o mau caminho desde cedo.
Será que BelleW vai ser Ravens que nem a mamãe. Ou vai ser a garotinha do papai e torcer para o NY Giants? Votem aí nos comentários! O que vocês acham?
E se alguém ver os Ward perdidos aí por Baltimore, tirem fotos! Façam vídeos!
— Debbi para o uppersofnewyork.net
***
Antes de irem embora de Baltimore, Beatrice foi comer a comida do pai de novo. Dessa vez, ele mesmo fez. E ainda ficou danado da vida de saber que eles foram ao seu restaurante principal e não disseram nada. Eles tinham um almoço com os pais dela, a avó, suas irmãs e filhos.
— Pensei que viria aqui ver esse jogo violento e não me veria — disse Agatha, sentada perto de Beatrice.
— Até parece que eu faria isso, vovó. Eu tinha que vir te contar algo!
— Conta logo, sou cardíaca, estou velha.
No final do almoço as crianças estavam dispersas perto da mesa e pelo jardim, estavam aproveitando o clima ainda ameno para comer do lado de fora. E Beatrice ia contar o seu segredo para o resto da família.
— Então, eu vou ter outro daqueles — ela apontou para Bel que milagrosamente ainda estava na cadeirinha, mas só porque demorara a começar a comer e continuava entretida com as batatas, tomates e os cubinhos de carne que o avô fez para ela. Pelo jeito, estava adorando, pois franzia o cenho, muito compenetrada em comer tudo, tanto com a colher quanto a mão.
— Como assim? — A única tia que fora convidada franziu o cenho e parou de comer o doce.
— Ora essa, ela está esperando outro clone do marido! — disse Agatha.
— É, eu meio que estou me conformando com isso — disse Bea.
— Com o bebê?
— Em vir outra miniatura dele.
— Ah, agora que ela cresceu mais dá para ver que se parece com você também. E esses olhos mais lindos — Belinda acariciou a cabeça da neta.
— Parabéns! Mais um na família já enorme! — disse Rose, fingindo que não soube antes.
Beatrice recebeu os cumprimentos, até Cherry a abraçou e parabenizou.
— Como assim já vai fazer quatro meses?
— Preferi esperar um pouco para dar a notícia, com a Bel eu soube quando já tinha uns 2 meses e contei logo.
— E você, o que tem a dizer sobre isso? — Agatha estreitava os olhos.
Sean abaixou o copo de soda, ele era só o coadjuvante da história, então só sorria e assentia.
— Estou feliz e já me recuperei da surpresa — contou ele.
— Não sei porque você ficaria surpreso. Agora que já se acertaram, a pessoa ser casada com um bonitão rico e ficar regulando a mixaria e o útero é no mínimo bobeira — soltou Agatha.
— Vovó!
— Que isso, mãe!
— Ué, eles estão jovens, têm boa saúde e dinheiro! Eu quero é bisneto! — devolveu ela e deu uma batidinha na mão de Beatrice. — Isso mesmo, meu bem. Já fez sucesso, a conta está cheia, já pode ter quantos filhos quiser.
— Beatrice nunca quis ter muitas crianças, deixe-a se acostumar a ideia — defendeu a mãe.
— Ela não queria ter nem marido, quem dirá criança — murmurou Cherry, sempre inoportuna.
— E você, mande me buscar naquele avião chique para eu estar lá assim que nascer, ela estará ocupada — disse a Sean. — E se for ter um terceiro, não demorem muito, já fiz 73, quero conhecer todos os meus bisnetos. E a família rica dele só tem velho e uns homens parecidos com ele, não tem criança. Ninguém vai reclamar de ter mais.
— Eu mando, vó! — disse Bea.
— Você está sabendo demais sobre a família do Sean, vovó — disse Rose.
— Eu aprendi a usar aquele tablet. Eu pesquisei, são muito famosos! Agora vejo tudo sobre eles também.
— Quem foi que deu um tablet a ela? Vovó agora parece o noticiário das 20h! — disse Cherry. — Foi você, né, fedelha?
— Ela não entendia bem o celular! — Defendeu-se Bea. — O tablet tem programa para idosos terem mais facilidade de acesso!
— Vejo tudo, vi o vídeo do Barry, com aquela calça 2 números menor do que o tamanho da cintura redonda dele — disse Agatha, implicando com o marido de Cherry que estava com a boca muito cheia para se defender e ele nem se importava, só ria.
— A calça estava boa! — disse Cherry que se incomodava no lugar dele.
— Sorte que a música é boa, até que enfim! — continuou Agatha, a treteira da família até o fim.
— Isso é culpa sua, Bea!
Beatrice só ria.
— Acompanhei as férias todinhas daquele seu primo, vai se casar, né? Até que enfim tomou vergonha na cara. Que rapaz mulherengo! Eu nunca sabia com quem ele estava — ela falava com Sean sobre Jared, que Agatha conhecia bem e adorava encontrar.
— Ele também tem uma filha, da idade da Bel — disse Sean. — Até que temos mais crianças na família agora.
— Eu vi, claro. Vi a foto da sua família inteira. Acho melhor ele trazê-la quando nos encontrarmos lá naquele seu palacete no alto — disse ela, pois nunca chamava o triplex por um nome normal.
Niko trouxe um embrulho para a filha e ela pulou e o abraçou apertado.
— Olha, o primeiro presente do meu bebê novo. Obrigada, pai — ela o beijou no rosto.
— Mas é menino ou menina? — Belinda estava muito curiosa e tinha limpado a boca da neta assim que ela acabou e a segurava, aproveitando o pouco tempo que tinha com ela.
— Então…
Beatrice olhou para Rose, sua irmã mais velha e ela levantou e anunciou.
— Eu sei! Ninguém mais sabe, só eu vi o exame!
— Rose, para de suspense — pediu Belinda.
Bea deu a volta na mesa e foi para perto da irmã, estava excitada e só faltava dar pulos.
— Anda, mostra logo!
— Sean, o que você acha que é?
Ele apoiava os antebraços, prestando atenção no que Beatrice fazia e tinha uma expressão ao mesmo tempo surpresa e ansiosa. Bea não lhe contou que ia fazer a surpresa naquele dia, foi fazer o exame sem ele saber e guardou segredo, ela também não viu o resultado.
— Não sei, ficarei feliz de todo jeito — disse ele.
— Calma, eu fiz todo um momento especial — Rose mostrou uma caixa de presente, quadrada e mediana e colocou nas mãos de Beatrice. — Abre!
Bea olhou para a caixa, depois olhou para Sean e respirou fundo. Quando abriu a tampa, uma luz suave tomou conta do ambiente, movendo-se e iluminando o teto da varanda e os rostos das duas. A luz era verde e vinha de um vidro com água e flocos dentro, em volta estava repleto de jujubas, balinhas de gelatina, marshmallows e bombons, tudo verde e branco.
— Sean, é um menino! — Exclamou Bea, abrindo um sorriso e pulando no lugar.
Rose batia palmas, contente com sua surpresa.
— Com certeza vai ser a cara dele! Se a garota já é!
Bea esperou ele dar a volta na mesa e o segurou com um braço e manteve a caixa com o outro. Ele beijou seu rosto e a envolveu entre os braços.
— Ele só diz que vai amar todos, mas eu admito que queria um menino dessa vez — disse Beatrice.
— Viu, Bel, você vai ter um irmãozinho para aprontar e cuidar — Belinda balançava a neta e ela ainda batia palmas, mesmo quando os adultos pararam.
— Então eu acertei no presente — disse Niko, convencido.
Com o anúncio, eles nem conseguiram abrir, Bea deu a caixa com a luz e os doces para Sean segurar e abriu o presente do pai. Era um babador fofo com chef Stravos escrito, junto com meias e sapatinhos. Era tudo branco, verde claro e com detalhes roxos. Niko sempre viu que Belle usava diversas cores, tanto claras quanto escuras, então achou que um próximo filho teria o mesmo estilo.
— Ah, pai, você é o melhor — Beatrice o apertou, abraçando-o por cima dos ombros.
— Estou emocionada, não tenho mais idade para isso — confessou Agatha, secando o canto do olho com um guardanapo. — Outro bisneto, agora da minha neta mais nova.
Beatrice foi lá e a beijou, passando o braço em volta dos seus ombros e a confortando.
— Ele ainda está em choque, só ficou parado aqui com a caixa nas mãos — Rose caçoou de Sean.
— Raramente o vejo sorrir tanto — disseram.
Sean estava com uma expressão estranha mesmo, segurava a caixa e tinha um sorriso perpétuo no rosto, com um brilho forte em seus olhos turquesa que pareciam estar com a cor mais forte.
Beatrice franziu o cenho para ele e se aproximou, ele a olhou e prensou os lábios, mas ela sorriu e ele acabou abrindo o sorriso de novo. Ela o abraçou e deitou a cabeça no seu ombro.
— Ele fica assim quando está muito emocionado, não sabe bem o que fazer — Bea esfregou o peito dele levemente e o beijou no rosto. — Açúcar ajuda, abre a boca.
Ela pegou uma jujuba verde da caixa e ele aceitou, ficou sorrindo enquanto engolia, mas agora por divertimento, pois ela pegou várias e comeu também, depois colocou a tampa, para cobrir a luz verde que ficava se movendo dentro do vidro e Bel estava com os olhos arregalados, tentando entender o que era aquilo.
— Nós não vamos divulgar nada disso por enquanto, então já sabem, bico fechado — lembrou Bea, antes de entrarem na casa.
— É difícil lidar com a celebridade da família, pelo menos dessa vez não tem paparazzi na frente da casa — Rose riu quando Cherry revirou os olhos.
— Eu vou contar quando a barriga começar a aparecer demais, daí vão postar minhas fotos pela internet dizendo que estou grávida, então o RP dele confirma — Bea apontou Sean com o dedão. — Até lá, já deve estar com uns 5 meses.
Ela se virou e alisou a barriga ainda sutil, naquele dia estava com um vestido levemente justo no corpete que denunciaria quando a barriga crescesse mais.
— Nem dá para ver, acho que a barriga da Bel cresceu mais rápido e mais cedo — ela deu de ombros.
Eles iam partir de Baltimore ainda naquele dia, pois ambos tinham compromissos de trabalho para a manhã seguinte. Então começaram a se preparar.
— Booom, vovô! — Bel abriu a boca, para ganhar mais sobremesa e Niko sorria, divertindo-se com sua neta mais nova. Ele também havia feito aquele pudim de pão e frutas especialmente para ela.
— Estou muito feliz por vocês — Belinda abraçou a filha antes de ter que vê-la partir.
Beatrice ficou com ela um momento antes de abaixar e beijar Agatha.
— Até breve, vovó. Agora que você já sabe onde apertar para fazer chamada de vídeo, pode me ligar mais vezes.
— Você é muito ocupada, vou ligar no final de semana — disse ela.
Bea a beijou. Abraçou todo mundo, riu de Rose quando ela beijou o rosto de Sean e o olhou para ver se ele tinha feito careta, mas ele sorria. Rose nunca o deixou desconfortável e quando ele e Bea reataram, ela não implicou mais com ele.
— Nos vemos logo — Belinda acenava.
Don fechou a porta e entrou na frente, pois Raymond que estava ao volante. Beatrice ficou do lado da janela, vendo a casa se afastar.
— Morro de nostalgia quando venho aqui — ela olhava pela janela, vendo seu antigo bairro passar.
Dessa vez Bel estava cochilando na cadeirinha e Sean passou o braço em volta dos ombros de Beatrice. Ela descansou contra ele e o olhou.
— É um menino — disse baixo.
— Sim, é um menino — ele acariciou seu rosto e a beijou.
— Confessa que você queria.
— Eu estou muito feliz.
Bea apertou a bochecha dele, esticando seu sorriso.
— Minhas bochechas já estão até doendo, meus músculos não estão acostumados a isso — ele moveu a boca, como se esticasse o rosto.
— Cadê a minha caixa da luz verde? Quero comer as balas!
Ela pegou a caixa que iluminou o carro assim que foi aberta e descobriu onde desligar a luz e passou o caminho até o aeroporto comendo as balas e recostada contra ele. Eles voltaram para Nova York e para o bando de coisas que tinham que fazer e planejar, não parecia que passava tão rápido, mas em poucos meses teriam que mudar o ritmo novamente para cuidar do novo membro da família Ward.
Espero que vocês tenham gostado de participar do primeiro jogo da vida da Bel! E de ver que o próximo bebê do Sean e da Bea será um menino como vocês escolheram na enquete no nosso grupo do Facebook!
Essa história acontece depois do livro Quando Eu Te Abraçar, que como vocês sabem é onde a Belle nasce.
E a revelação da nova gravidez da Beatrice acontece no livro Até Você Voltar que é o #2 da duologia do Jared Ward. Ou seja, são 6 livros até chegar ao momento dessa cena! Olha, mas a gente andou com esses Ward, hein!