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Atenção
- São CINCO CAPÍTULOS. Passe para o próximo capítulo no fim da página. Tem lá os números: 1 2 3 4 5.
- Você não pode ler esse conto se NÃO TIVER LIDO o livro Um Acordo de Cavalheiros. Porque você nem saberá quem são Tristan & Dot. Então volte duas casas, entre *neste link* e pegue o seu livro. Ele está disponível em físico, e-book, audiolivro e está incluído no kindle unlimited.
Boa leitura!
Capítulo 1
Querida Lady Destruidora de corações,
Eu lhe prometi que estaria de volta a tempo do festival. Infelizmente, precisarei fazer uma parada inesperada, mas ainda estarei em casa para o dia das bruxas. Depois de todo esse tempo juntos, ainda duvida de minha palavra? Quando eu chegar, provarei minha palavra em cada grito de prazer que farei passar pelos seus lábios. Espere por mim.
Tristan Thorne
— Aquele lordezinho mentiroso — resmungou Dorothy, ao guardar a carta em sua mesinha. Nem se daria ao trabalho de responder, afinal, não sabia por onde andava seu marido. Esperava que ele já estivesse em algum local da estrada a caminho de propriedade deles.
No primeiro dia do feriado de dia das Bruxas, Dorothy Thorne terminou de combinar com os empregados como seria a participação deles nas festividades do vilarejo. Afinal, os empregados da casa também tinham direito de se divertir. Os três dias de festividades representavam o fim da colheita e a entrada do inverno. E o dia trinta e um era reservado para os exageros dos participantes, era quando comiam, bebiam e se entregavam às superstições aliadas à véspera do que seria o real dia das bruxas.
— Fizeram os bolos de alma? — indagou Dot, enquanto calçava as luvas.
— Pela quantidade de cestas que levaram, temos bolos para alimentar dois vilarejos, milady — contou a Sra. Fenington, governanta da casa.
— Então aproveite para se divertir um pouco — sugeriu Dot.
A governanta lhe lançou um olhar incrédulo, a condessa estava lhe dizendo para abandonar seu posto e ir ao vilarejo se entregar a atividades duvidosas e assustadoras? A Sra. Fenington era crédula demais para isso, acreditava que quem chamava, atraía os espíritos. Segundo as superstições, trinta e um de outubro era o dia do ano em que os espíritos e outros seres sobrenaturais estavam liberados para vagar pelo mundo dos vivos.
— Inclusive, não sei se a senhora deveria permanecer fora de casa por muito tempo, quanto mais tarde, mais perigoso — sugeriu a senhora.
— Não vai me dizer que está com medo de sair e encontrar com um fantasma — Dorothy moveu os dedos enluvados, fingindo assombrar a pobre governanta.
— Pois milady saiba, que é nessa noite que nossos entes queridos vêm nos visitar.
— A senhora quer dizer os entes falecidos — Dorothy saltitou pela porta principal da mansão de campo. — Diga a Albania que mande me buscar se precisar de mim.
Depois do recado para a babá de Joan, sua bebê de um ano, Dorothy subiu no coche e partiu rumo ao vilarejo, na companhia de um cocheiro que devia acompanhá-la o tempo todo e levando de carona dois empregados que tinham a noite de folga e estavam ávidos para as atividades locais.
***
As ruas e os arredores estavam iluminados por tochas e no topo de algumas estacas havia grandes nabos esculpidos com feições horripilantes. Nem todos gostavam dessa parte, a história do Jack Astuto assustava pessoas como a Sra. Fenington. Mas os mais jovens sempre arrumavam os maiores nabos para entalhar e espalhar pelo vilarejo.
— Aposto que aquele desalmado gostaria disso — Dorothy comentou para si enquanto passava pelas ruas do vilarejo.
O desalmado era o libertino com quem ela tinha se casado e além do título de conde, tinha um trabalho perigoso: espião da coroa. E ele tinha ido resolver algo que ela não queria saber detalhes. No ano passado, Dorothy estava com uma recém-nascida e não pôde participar de nada, obrigou Tristan a ir pelo menos dar uma olhada para lhe contar. Esse ano ela que contaria tudo.
E era bom que os camponeses e habitantes locais vissem a nova condessa sendo participativa. Não era um vilarejo pequeno e três propriedades “dividiam” a guarda dele. Cada extremo ficava mais perto da casa de um nobre e Dorothy não custou a ver que os convidados do banquete de feriado oferecido por lorde Bandon estava rondando por ali. Eles se decepcionariam com as conquistas da noite, as moças estavam mais interessadas em executar os rituais especiais desse dia que lhe diriam se encontrariam um marido.
— Milady sabe descascar maçãs? — perguntou uma das senhoras que tomava conta das frutas.
Várias pessoas se alternavam tentando pescar as maçãs e as moças se concentravam em descascar as frutas de forma perfeita.
— Se conseguir tirar a casca sem quebrar, vai descobrir a inicial do seu futuro marido — riu uma jovem. — Mas milady já tem um!
Disposta a mostrar sua habilidade com uma faca, inspirada justamente pelo marido, Dorothy pescou uma maçã, tirou uma faquinha do cinto e descascou com rapidez e destreza, recebendo aplausos dos participantes. Ela jogou por cima do ombro e girou para olhar, não tinha formado um T, ficou bem torto, mas podia ser um W.
— A senhora sabe histórias assustadoras? — perguntou outra jovem.
Em sua primeira participação nas festividades, a nova condessa de Wintry virou uma atração, principalmente para moças curiosas sobre a mulher que tinha fisgado o conde com a pior fama de Londres, tão infame que as histórias sobre ele chegaram até aqueles lados. Dorothy se sentou perto de uma das fogueiras onde estavam assando avelãs. Era outro costume para as moças que tinham planos de descobrir seu futuro amado. Como alguém que esteve fugindo de casamento antes de cair no charme de Tristan Thorne, Dorothy só pensava no quanto aquilo era uma pressão até num festival voltado especialmente ao público campestre. Ali, os aristocratas eram os convidados, a festa era do povo local.
— No norte há um castelo mal-assombrado à beira de um penhasco, o vento uiva ao passar pelas janelas. Depois de dias de viagem, ele é belo como uma miragem e sua aura de mistério fantasmagórico engana e atrai os desavisados… — começou Dot, brincando com a mente impressionável do seu público.
Enquanto ela contava dos fantasmas do castelo, as pessoas vigiavam os frutos na fogueira e de tempo em tempo uma moça sorria contente e outra ficava chateada quando uma avelã estourava e pulava para longe da outra, isso significava que a jovem não ficaria com o rapaz em quem ela pensou quando colocou as avelãs juntas para assar.
— Milady tem um humor sombrio — a senhora das maças tinha se abraçado enquanto ouvia sobre o fantasma seduzindo as pessoas e lançando-se com elas pela janela do castelo, ao som do vento uivante.
Satisfeita em ter causado arrepios com suas histórias, Dorothy se levantou e foi passear, enquanto comia suas avelãs que assaram bem juntinhas. Tristan já teria feito tantos comentários cômicos e irônicos, ela queria que ele chegasse a tempo das festividades. Quando passou pela barraca que mandou armar, viu que os bolinhos de alma estavam sendo um sucesso, várias pessoas passavam comendo as iguarias que pareciam biscoitos achatados, eram doces, amanteigados e foram feitos com passas, nozes e outras especiarias picadas. Quem sabe com uns bolos daqueles, os rapazes não ficassem tão bêbados.
Depois de escutar mais uma gritaria, Dorothy foi checar. Pensou que era um dos jogos da noite, mas viu uma moça sair berrando e ela não estava brincando. A mulher passou correndo e se jogou nos braços dos pais, ela tremia inteira.
— Milady, acho melhor não ir lá! — avisou o cocheiro, surgindo tão rápido que parecia mais uma das almas que vagavam naquela noite.
— Por quê? — indagou Dorothy, curiosa.
— Tem fantasmas!
Uma mulher pequena, com o traje típico que ciganos usavam nesse tipo de festividade para serem identificados, passou por eles e disse alto:
— Vocês queriam saber o futuro, não queriam? Os espíritos estão dizendo! — pela expressão dela, divertia-se por ver o pânico, tanto que tinha deixado o posto onde prometia contar o futuro das pessoas em troca de uns centavos.
Decidida a investigar, Dorothy se aproximou e escutou uma jovem gritar:
— Eu vou morrer! Vou morrer!
A casa ficava no lado oeste do vilarejo, perto da estrada que dava na propriedade de lorde Bardon. Dorothy avistou alguns jovens lordes olhando a confusão de um jeito que ela reconheceu como malícia. Será que estavam envolvidos em algum ardil para assustar aquelas pessoas?
— Mary também não voltou até agora — disse uma mulher, em meio aos curiosos.
— Francis também! — denunciou um rapaz.
— Mas ela saiu correndo. Mary e as outras entraram e não saíram! — retorquiu a primeira mulher.
Empurrando o cocheiro para lhe abrir caminho, Dorothy entrou no centro da confusão e nem precisou fazer perguntas, ao verem que ela estava ali, começaram a lhe contar que moças solteiras tinham desaparecido. Ou saíram apavoradas da sala do espelho.
— Mas tem alguma saída do outro lado?
— Está trancada, é só o cômodo do espelho — contou um dos homens.
Antes que Dorothy pudesse tomar uma providência, a viúva mais famosa do vilarejo parou na porta da casa e gritou:
— Foi o Jack! Ele veio pegar as almas delas! Ele quer noivas!
Houve um momento de silêncio, Dorothy só moveu os olhos, observando os rostos dos presentes. Alguns ficaram apavorados, umas risadas escaparam e depois gritos de protestos.
— Sra. Sealy! Saia daí! E pare com essa história de Jack, ele não leva garotas! — brigou a senhora das maçãs.
A viúva famosa não era idosa, mas já era uma mulher madura o suficiente para não entrar na sala escura do espelho em busca de ilusões. Mesmo assim, ela usava todo tipo de artifício para entrar em contato com seu falecido marido. Jurava que via o rosto dele no espelho, dizia a todos que todo dia trinta e um de outubro seu querido vinha visitá-la. E, segundo uns relatos, nessa noite ela ia para a floresta se encontrar com o marido que tomava a forma de algum homem local. Dorothy soube de toda essa fofoca mesmo enquanto estava sentada em casa no ano passado, com os pés para cima e sua bebê de poucas semanas aconchegada contra o seu peito.
— Deixem-me passar — mandou Dorothy, fazendo um corredor se abrir até ela subir o degrau para a casa.
— Milady, por favor, se o conde só pensar que a deixamos em perigo… — pediu um dos empregados que estava de folga, mas subitamente ficou sóbrio.
Para espanto de todos, ela bradou a faca que tinha usado para descascar a maçã e anunciou.
— Vigiem a porta de trás. Se não for um espírito, vou furar quem estiver pregando peças nas pessoas.
Sons de espanto espalharam-se entre os presentes em volta da casa, deixando as pessoas em dúvida sobre se apavorar pôr a condessa ter dito que esfaquearia alguém ou o perigo de ela ser exposta a espíritos rebeldes.
— Mas e se for um espírito! — gritou alguém, apavorado.
— É o Jack Avarento! Meu Deus, ele vai levar a condessa também! — gritou a Sra. Sealy.
Dorothy sumiu em meio a entrada escura, deixando os locais paralisados. A pouca luz do cômodo estava perto do espelho, ela ouvia apenas as batidas do seu coração e os próprios passos sobre o piso de madeira. O grande espelho ficava no fundo do cômodo. Era para as moças pararem ali, observarem seu reflexo na penumbra e se vissem um rosto masculino próximo ao delas, era sinal de que se casariam logo. Contudo, se vissem uma caveira, elas morreriam antes de se casar, mesmo se encontrassem um noivo.
— Mas que diabos… — resmungou Dorothy ao estreitar o olhar ver uma caveira.
Ela já era casada. E não havia a possibilidade de se casar de novo, pois só existia um Tristan Thorne para convencê-la a tal ato temerário. No entanto, a caveira não apareceu ao lado do rosto dela como dizia a crença, estava mais para trás. Olhando em volta, ela inspecionou o cômodo e avistou uma forma clara pendurada na penumbra, foi lá olhar e viu que era os contornos da imagem de caveira feita com giz branco. Dependendo da luz, ela refletia bem no espelho.
— Milady! — chamou o cocheiro da porta traseira.
— Aaah!! — gritou Dorothy, sobressaltada, pois não esperava que aquela porta abrisse, era para estar trancada. — O que você está fazendo aí?
— A senhora estava demorando e percebi que a porta estava destrancada.
Pouco depois, a viúva Sealy, a mulher das maças e a cigana baixinha entraram correndo com uma tocha.
— Condessa! — gritou a primeira
— Madame! — chamou a cigana.
— Está bem? — quis saber a senhora das maçãs.
— Acalmem-se, senhoras — pediu o cocheiro, mantendo a porta traseira aberta.
— Foi o Jack? — indagou a viúva.
— Eu vou afogá-la em meio às maçãs se continuar a falar dessa história do Jack Mesquinho — ameaçou a outra senhora.
E em meio a penumbra, foi o momento da Sra. Sealy fazer seu novo anúncio que ninguém saberia se era real ou só mais uma das coisas estranhas que ela dizia no dia trinta e um:
— Eu vi a lanterna dele balançando em meio a floresta. Vocês não viram? Estava bem aqui perto, indo pegar espíritos na propriedade de lorde Bardon. Foi ele que levou as moças para aplacar sua fome nesta noite.
Como sempre esses dois sabem agitar as festas🎃🔥👏🍯🔥
Adorei rever Dor e Tristan!!! Obrigada Lucy!!!
Dot, como sempre destemida e pronta para resolver uma mistério.
E Lucy como sempre desvendando as superstições da época e nós presenteando com esse conto…..
Ah mulher pode começar a escrever mais hein que saudade kkk agora vou reler tudo de novo kkk escreve mais vai
Foi maravilhoso ter um pouquinho mais de Dor e Tristan